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A língua é uma das minhas maiores paixões - seja no campo da linguística seja relativa ao paladar. Este blog está centrado na primeira opção, mas de tudo um pouco pode ser encontrado aqui: leituras deleite, dicas, tira-dúvidas, análises linguísticas e tópicos de gramática normativa, curiosidades, humor e muito mais. Está esperando o quê?! Professor Diogo Xavier

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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Paralelismo na redação: cuidado com esse erro comum

Na construção textual, é preciso que a relação entre os termos e orações se dê levando-se em consideração algumas propriedades de ordem gramatical e semântica. Entre elas, merece especial atenção o PARALELISMO. Especialmente quando coordenamos termos ou expressões dentro do período, o paralelismo confere estrutura padronizada entre esses elementos coordenados. Observemos:
"Devido ao aumento da violência e o Judiciário demorar para julgar os presos, o sistema penitenciário fica superlotado"
A expressão "DEVIDO A" introduz duas causas para a superlotação do sistema penitenciário. Na primeira causa, percebemos a estrutura ARTIGO + SUBSTANTIVO + ADJ. ADNOMINAL. A segunda causa é apresentada com SUJEITO + VERBO + ORAÇÃO SUBORDINADA. Em resumo, sintaticamente, essas duas estruturas coordenadas entre si (as duas causas) possuem características sintáticas muito diferentes.
Podemos reescrevê-la da seguinte maneira:
"Devido ao aumento da violência e à demora no julgamento dos presos, o sistema penitenciário fica superlotado."

Vejamos outro exemplo:
"Isso provoca condições insalubres, como transmissão de doenças, proliferação de insetos e ociosidade".
Neste último caso, temos três exemplos de condições insalubres, que seguem estruturas sintáticas semelhantes, tendo substantivos como núcleos. Porém ociosidade, que é a falta de atividades ou ocupações, não tem relação direta com a a transmissão de doenças e com a proliferação de insetos, ou seja, temos uma quebra de paralelismo, neste caso, SEMÂNTICO, quando o assunto de um dos elementos coordenados destoa dos demais. A solução, nesse caso, seria tirar o último elemento:
"Isso provoca condições insalubres, como transmissão de doenças e proliferação de insetos".

Mais um exemplo:
"Lucas possui muitas qualidades: é simpático, sensível, gentil e gosta de filmes."
As qualidades apresentadas começam com a coordenação de predicativos do sujeito, ligados ao verbo ser: È simpático, sensível,  gentil. GOSTA de filmes quebra a estrutura sintática, dessa vez apresentando um verbo e um objeto indireto. Além disso, a semântica sofreu uma quebra, já que os três primeiros elementos apresentam atributos de personalidade, enquanto o último tem um gosto. O melhor, portanto, seria retirar o elemento:
"Lucas possui muitas qualidades: é simpático, sensível e gentil."

O paralelismo também se manifesta no uso da crase, por exemplo.
"A aula será de 12 a 18h".
De 12 (preposição + número)
A 18h (preposição + número)

"A aula será das 12 às 18h".
Das 12 (preposição + artigo AS + número)
ÀS 18h (preposição + artigo AS + número)

Dessa forma, por meio do paralelismo, conseguimos acertar também a ocorrência ou não da crase marcada pelo acento grave.

Então é isso, fera! Continue estudando! Qualquer dúvida, pergunta para a gente!
Diogo Xavier

sábado, 26 de agosto de 2017

Imagina juntas - locução com TEM ou VEM

Dica rápida. Locução verbal com VIR ou TER indicando algo que acontece no presente, dando ênfase na continuidade ou no progresso da ação:

"O quadro VEM apresentANDO melhoras"

"O quadro TEM apresentADO melhoras"

"Eu VENHO estudANDO com dedicação"

"Eu TENHO estudADO com dedicação"

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Vou ir?

Apesar de causar estranhamento em muitas pessoas, a expressão VOU IR é gramaticalmente correta. Não existe aí redundância. VOU é usado no português como auxiliar em locução verbal para indicar futuro, seja mais distante, seja imediato. Quando a ação que se quer pôr no futuro é IR, acontece a junção de VOU IR.
O fato é que a aceitação ou o estranhamento dessa locução variam de lugar para lugar. 
Entretanto, caro usuário da língua, se você não quiser, em situações mais formais, ser alvo de preconceito linguístico, mesmo que infundado, é possível usar o futuro na forma simples: eu irei.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Tinha um pintinho no ovo - verbo FRITAR

Na dúvida, frita.
Curiosidade: fritar é um verbo que derivou do verbo FRIGIR e o substituiu no gosto popular. O particípio irregular desse verbo é FRITO. Em torno do radical FRIT- o verbo fritar foi surgindo.
Então na dúvida, em vez e cozinhar, frita. Quando quebrar o ovo, não tem como não perceber o pintinho. 
Não entendeu a referência? 
Dá uma olhada, então: 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Espresso ou no coador é mais forte?

Já falei a respeito, mas não custa relembrar: ESPRESSO é a forma mais aceita por especialistas na área. Já os puristas e defensores da moral e bons costumes dos bons vocábulos tendem a preferir a grafia EXPRESSO.
Enquanto eles se decidem, vamos tomar um cafezinho?

domingo, 20 de agosto de 2017

Seja menos ou seje menas

Passando só para lembrar que, na norma padrão, o verbo SER no imperativo, na terceira pessoa (você) é SEJA.
Além disso, a expressão MENOS não varia.
Seja menos!

sábado, 12 de agosto de 2017

COESÃO - FORMAS DE RETOMADA E LIGAÇÃO



Sabemos que os recursos de retomada, os conectivos e as relações de sentido que estabelecem são assuntos essenciais para a Redação, para a prova de Linguagens no Enem e para a prova de português em concursos diversos. Este material resume esse assunto. Use e abuse!
Qualquer dúvida, joga nos comentários.

sábado, 5 de agosto de 2017

Funções do QUE e do SE



Fala, galera!

A dica da vez são as funções morfossemânticas dos vocábulos QUE e SE.

Peguem papel e caneta para não perder as explicações.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Estudo das conjunções

E aí, galera! Vamos de revisão!
As conjunções e locuções conjuntivas servem para ligar orações ou termos de mesma função nas orações, estabelecendo relações sintáticas e/ou semânticas.

No caso das conjunções coordenativas, a relação é de coordenação, independência sintática, ou seja, uma não exerce nenhuma função sintática da outra, uma não é termo da outra.
Exemplo :
Gosto de filmes de herói, MAS ainda não vi o novo filme do Homem-aranha.
A segunda oração estabelece uma quebra de expectativa em relação à primeira, sendo que nenhuma das duas precisa que a outra exerça alguma função sintática.

As orações subordinadas substantivas, ligadas pelas conjunções integrantes em geral, exercem funções sintáticas em relação à principal. Funções essas cujos núcleos são substantivos ou palavras substantivadas: sujeito, objeto direto e objeto indireto, complemento nominal, predicativo e aposto.
Exemplo:
A verdade é QUE preciso de você. 
A primeira oração "a verdade é" está sintaticamente incompleta, já que possui sujeito e verbo de ligação, mas não tem predicativo. A segunda oração exerce justamente essa função sintática que falta na principal, ou seja, funciona como seu predicativo.

As conjunções adverbiais ligam orações que funcionam como adjunto adverbial da oração principal, estabelecendo relação de causa, consequência, finalidade, condição etc.
Exemplo:
 SE você vier, conhecerá minha família.
A primeira oração, iniciada pela conjunção SE, estabelece circunstância de condição para a oração principal acontecer.

ATENÇÃO
Muitas conjunções apresentam, dependendo do contexto, funções e sentidos diferentes dos originais. Vale também estudar mais as funções morfossemânticas do QUE e do SE, pois podem ser não só conjunções.

Então é isso! Por hoje é só, bons estudos e até a próxima.

sexta-feira, 28 de julho de 2017


A partir do ano de 2017, a fundação responsável pelo Vestibular da Universidade Estadual de São Paulo (Vunesp) ficará responsável pela correção e aplicação da prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio. Ainda não se sabe se isso irá mudar a abordagem dos temas, que nos últimos anos tem focado nos grupos sociais. Como a inscrição já foi realizada e no edital já constavam os mesmos critérios de correção dos anos anteriores, é certo que as competências avaliadas e os níveis permaneçam os mesmos, apesar de o rigor poder aumentar. Devemos ficar atentos a essas mudanças. De qualquer forma, não percam o foco e permaneçam treinando para a redação!

Fiquem atentos a mais novidades!
Curtam: Facebook.com/minhalinguaeeu

terça-feira, 25 de julho de 2017

Qual é a sua dúvida?

Você que é vestibulando, concurseiro, que estuda para OAB ou mesmo para aprimorar seus conhecimentos a respeito de nossa língua materna, queremos saber: qual é a sua dúvida?  Comente suas dificuldades, os assuntos sobre os quais gostaria de esclarecimentos, para que nós possamos ajudá-lo nas próximas postagens.

domingo, 23 de julho de 2017

Pôr-do-sol ou pôr do sol?

Antes do novo acordo ortográfico, a grafia dessa locução substantiva era com hífen: pôr-do-sol. Porém, após a mudança, o hífen deixa de ser usado. Portanto a grafia adequada é PÔR DO SOL.

sábado, 15 de julho de 2017

Cuidado com ONDE


A dica hoje é sobre ONDE, mas não iremos entrar agora no mérito da distinção ONDExAONDE. 
Um problema muito comum é que as pessoas acabem usando ONDE para ligar orações que às vezes nem tem como ser ligadas com um pronome relativo ou mesmo uma conjunção. No exemplo da imagem da postagem, poderíamos separar em dois o período: "Com isso, muitas vezes acaba empregando como uma conjunção neutra, que se encaixa em qualquer situação. Isso prejudica a nota do candidato na redação." O ISSO já desempenha papel coesivo suficiente.
Há também o problema do uso do relativo ONDE em situações em que o termo retomado não representa lugar.
"A instituição social mais importante na vida da criança é a família, ONDE ele aprenderá noções iniciais de certo ou errado."
Nesse caso, o correto seria usar NA QUAL ou EM QUE, pois família não é um espaço físico.
"A segunda instituição social mais presente é a escola, ONDE o contato com pessoas fora do âmbito social promove a socialização". Nesse caso, em que ou na qual também caberiam, mas o onde está sendo usado adequadamente, pois a escola, além de instituição, é um lugar físico.
É isso, galera!
Vocês estão preparados para a redação? Estamos a poucos meses da prova do Enem e outros vestibulares!
Fiquem ligados, que ainda há vagas na turma de redação aos sábados, das 12h30 às 14h20. E a turma da noite, nas terças, das 19h às 21h, começa dia 18 de julho!
Liguem pro Squadrão Aula Show e garantam sua preparação! F: 3090-5029
#redação #enem #squadrão

keywords: enem, dúvida, gramática, onde, redação

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Há dez mil anos atrás - Pleonasmo na dissertação de vestibular

Aqui estou eu, na bilionésima tentativa de manter postagens regulares no blog. Enfim. Vamos falar hoje pleonasmo, ou redundância. Não sabe o que é isso? Antes de ler a postagem, veja isto:





Pois bem, segundo o Houaiss, pleonasmo é:

"1 Rubrica: linguística.
redundância de termos no âmbito das palavras, mas de emprego legítimo em certos casos, pois confere maior vigor ao que está sendo expresso (p.ex.: ele via tudo com seus próprios olhos)
2 Rubrica: linguística.
excesso de palavras para emitir enunciado que não chega a ser claramente expresso; circunlóquio, circunlocução
3 qualidade do que vai além da suficiência; superfluidade, excesso, inutilidade"

Então pleonasmo é a repetição de ideias desnecessariamente através de palavras de significado semelhante. Convém, ressaltar, porém, que, ainda conforme o dicionário, o emprego é legítimo em alguns casos, como um recurso de ênfase.

Em relação ao texto dissertativo-argumentativo, é importante lembrar que deve ser redigido no padrão culto da linguagem, mantendo um vocabulário formal. Há, portanto, algumas redundâncias que devem ser evitadas  nesse gênero textual. Seguem alguns exemplos:

"Há 49 anos atrás, o Brasil entrou num dos períodos mais sombrios de sua história". Tanto "há" como "atrás" já indicam tempo passado. Portanto é desnecessária a repetição. "Há 49 anos" ou "49 anos atrás" está de bom tamanho.

"É preciso encarar de frente o problema da criminalidade entre adolescentes". Como é possível ver no vídeo, "enCARAr" já contém implícita a ideia de que é "de frente".

"Não podemos adiar para depois a discussão sobre o assunto". Só é possível adiar algo para depois, portanto é desnecessário o "depois". O que se pode utilizar é, por exemplo, expressões que determinem o tempo: "adiar para a próxima semana", "adiar para depois do feriado".

"O governo não tem outra alternativa senão investir mais na educação". Alternativa tem em si a ideia de "outro modo". "outra alternativa", portanto é uma redundância. Em um caso bem específico, pode-se usar sem constituir repetição desnecessária. Quando já foram dadas as alternativas, pelo menos duas, e se quer citar mais alguma: "As alternativas mais evidentes para o governo são a educação e a profissionalização. Outra alternativa é o uso de uma maior força punitiva".

"O JOVEM, devido à influência da mídia, ELE está cada vez mais consumista". Esse é o caso do que se chama de sujeito pleonástico. Na fala mais cotidiana, é muito comum. É um recurso inconsciente de repetição do sujeito através do pronome 'ele', principalmente quando se distancia do primeiro sujeito. Na escrita, porém, não devemos usar: "O jovem, devido à influência da mídia, está cada vez mais consumista".

Erro cíclico de redundância ¬¬
Outros casos comuns: premeditar (ou planejar) previamente; amanhecer o dia; melhora positiva; doido da cabeça.

Além disso, há casos de enumerações nas quais se usam sinônimos que tornam a ideia redundante: os políticos, em sua maioria, são corruptos, criminosos, ladrões. Entre ladrão e corrupto, dá para se estabelecer alguma diferença. Porém tanto um ladrão quanto um corrupto pode ser considerado criminoso. Portanto o uso da palavra 'criminoso' caracteriza uma ideia redundante. A propósito, a ideia, ou a forma como ela está sendo passada, é radical. Um eufemismo aqui cairia bem, mas isso fica para outra postagem.

Cuidado, então, com a redundância em seu texto dissertativo, bem como em outros textos formais, para não se auto-prejudicar-se a si mesmo.

Abraços.

Prof. Diogo Xavier

sábado, 23 de março de 2013

Enem, Miojo e abobrinhas da imprensa


Okay. Um estudante de engenharia civil decidiu fazer Enem ‘por fazer’ e, segundo ele diz, para testar o sistema mais rigoroso de correção do Enem 2012, escreveu no meio do texto um parágrafo instruindo como se faz um ‘delicioso miojo’. Tirou 560.

Está iniciada a polêmica. A mídia espalhou a redação como bandeira da ineficácia da avaliação das redações do Enem. E praticamente todo mundo reproduziu o discurso.

Clique para ampliar
De fato, foi inusitada a pausa para ‘miojo’, porém, como um todo, trata-se de uma produção que possui um nível razoável, sem graves erros gramaticais. O texto desenvolveu o tema dentro dos limites do gênero dissertativo-argumentativo, mesmo que abordando de maneira previsível e próxima ao senso comum. Houve uso de informações para argumentar e uma sugestão, ainda que superficial. Se não fosse a 'pausa para miojo', a nota seria maior. Eu avalio que entre 600 e, no máximo, 700.

Quem conhece os critérios de correção do Enem, sabe que 560 não é uma nota extraordinária e nem é muito mais alta que a nota que eu daria, ignorando o ‘parágrafo culinário’, com base nos parâmetros do Enem. Não houve desrespeito aos direitos humanos, menos de 7 linhas nem fuga total do tema. Esses são praticamente os únicos fatores que anulam a redação. Para saber mais sobre as competências avaliadas na correção da redação, clique aqui. Trata-se do Manual de Redação do Enem 2012. A propósito, fuga total do tema é quando o texto inteiro está fora do tema proposto, o que não foi o caso. 

O Enem avalia a capacidade de expor ideias sobre um tema, defender um ponto de vista por meio de argumentos e propor uma solução ou forma de conscientização social. Tudo isso na variedade padrão da língua. 

Com essas queixas geradas pela mídia ávida por polêmicas e pelos desinformados, ocorrerão mudanças nos critérios de correção. O que é negativo. Meu medo quando o Enem passou a ser adotado para os vestibulares foi que ele se tornasse mais mecanizado e menos preocupado com a contextualização de conhecimentos práticos no dia a dia. É o que está acontecendo com a redação do Enem. A pressão da mídia (e de quem reproduz os discursos dela) é para que a correção passe a contabilizar erros (como nos vestibulares tradicionais), em vez de considerar o texto como um todo, como uma unidade de sentido, cujo objetivo maior é transmitir e defender opiniões, além de propor soluções viáveis para problemas abordados. Com isso, o que era um Exame Nacional do Ensino Médio, uma avaliação fundada nas concepções mais atuais de educação, passa a ser um simples vestibular unificado.

Não digo que a correção do Enem é impecável: são muitas redações, muitos corretores, pouco tempo. Enfim, falhas podem ocorrer, mas, do caso dessa redação, não houve motivos para anular, nem para uma nota muito abaixo da que o texto obteve. Portanto, a meu ver, a nota dessa redação não prova nada. O fato é que a maioria das pessoas fala muito sabendo pouco. Reclamem com propriedade, não reproduzindo discursos sem ao menos se informar.


P.S.:
1. Muitos dos que escreveram nas redes sociais demonstraram que não chegam perto da competência na escrita que o autor do texto em questão possui.
2. Ninguém chega para querer mudar a forma como engenheiros civis projetam construções (a não ser eles mesmos). Da mesma forma, ninguém se mete a dar pitacos na forma como um cirurgião procede, ou como um oncologista trata uma pessoa com câncer. Creio que ninguém se propõe a questionar a forma como químico trata a água, ou faz ligas metálicas. Eles passam anos e anos estudando, se preparando, treinando, adquirindo experiência, por isso eles trabalham com o que trabalham. Por isso confia-se no trabalho deles.

Como no Brasil a educação não é levada a sério, qualquer brasileiro se acha educador, conhecedor das teorias da educação. Qualquer um acha que sabe ensinar, que sabe como se corrige uma redação, como se procede uma avaliação.

Se qualquer pessoa buscar, numa biblioteca universitária, estudos sobre avaliação, encontrará inúmeros artigos, monografias, teses, dissertações, frutos de pesquisar, discussões, experimentos, diálogo entre especialidades (psicologia, psicopedagogia, linguística, educação, sociologia, antropologia, etc.). Se buscar sobre o ensino da produção textual encontrará inúmeras outras produções. Um profissional da área de educação precisa de apropriar de tudo isso ao longo de sua formação, e mesmo ao longo de sua atuação profissional. O ENEM e os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) são construídos com base nesses estudos e estão em constante discussão.

Por quê, então, o ilustre cidadão brasileiro insiste em se achar especialista do ensino da língua e da avaliação de redações?! A imprensa o faz porque precisa de polêmicas para gerar audiência. Cabe ao cidadão se informar antes de propagar discursos prontos, baseados na ignorância e total falta de informação.
Outro exemplo disso tudo? Eu já publiquei AQUI.

(Um tanto longo para um post scriptum, mas a revolta foi grande)

Bem, grande abraços a todos. Deixo aberto o espaço para discussão, desde que sem baixar o nível e respeitando a opinião alheia.

Professor Diogo Xavier

tags: enem 2012, redação, miojo, imprensa, receita

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Volta às aulas - por que crase?

Como estou tentando manter o blog em ritmo constante, vou postar alguma coisa, mesmo que curta, estilo "pílula". Como tenho que preparar 6 aulas para amanhã e ainda acordar às 4:30 para ir à escola, esta será bem curta. 

Aproveitando a volta às aulas, vou explicar o porquê do acento grave ( ` ) na expressão.

Há muito tempo eu penso em fazer um post sobre crase, mas tem que ser algo bem detalhado, explicado e exemplificado, porém o tempo não tem permitido.

De qualquer forma, cabe uma explicação rápida. CRASE é o 'encontro' de dois sons vocálicos idênticos, o que quase sempre provoca uma pronúncia contraída, ou seja, fala-se apenas uma vez e não duas.
Exemplo: Gostei desse espelho > Geralmente pronuncia-se: Gostei dessespelho / dessispelho (a pronúncia varia conforme a região). Eu disse GERALMENTE, pois há quem pronuncie as duas vogais de maneira diferente: "dessiespelho". Devo ressaltar que essa contração não interfere na forma de escrever.

Enfim, isso é CRASE.

Em alguns casos específicos, quando o fonema "A" se repete, ele é escrito e pronunciado como um só:
Exemplo: Trabalho próximo àquela casa que seu primo comprou.

Na expressão em questão, temos PREPOSIÇÃO A+ A ARTIGO.

Vejamos: Volta às aulas.
Volta: substantivo feminino abstrato. Quando significa "regresso", "retorno", essa palavra necessita de uma complementação, que vai especificar a situação ou o lugar aonde se retorna. Ou seja, um complemento nominal. Esse complemento é antecedido da preposição A. Por outro lado, o substantivo "aulas" está definido, portanto é acompanhado pelo artigo definido, feminino e plural, no caso em estudo.

Então fica assim: VOLTA A (preposição) + AS (artigo) AULAS.
Nesse caso, ocorre crase, portanto os dois sons vocálicos são escritos como um  só, e um acento grave sinaliza a existência de duas vogais.
Portanto: VOLTA ÀS (A+AS) AULAS.

Ok. Essa pílula ficou um pouco grande e difícil de engolir. Falha nossa.

Bem, até a próxima.

Diogo Xavier

domingo, 27 de janeiro de 2013

Lembre-se do verbo lembrar

Lembre-se do verbo lembrar: uma questão de regência


Esta postagem será breve. Espero. O verbo LEMBRAR possui dupla regência, ou seja, existem duas formas de ele se relacionar com o seu complemento. É importante conhecer essa dupla regência na norma padrão, para usar adequadamente em contexto formais.

Curiosidade: o verbo LEMBRAR derivou, ao longo de muito tempo, do verbo memorar, do Latim. Foi mais ou menos assim: memorar > mem'rar > nembrar > lembrar.


Vamos à regência. Com o significado de trazer à memória, recordar, esse verbo pode se apresentar assim:

VTD ou Bitransitivo: 

* Rimos muito enquanto lembrávamos as aventuras do tempo de escola. (Verbo Transitivo Direto - liga-se ao complemento sem preposição: "as aventuras")

* Lembrei ao meu amigo o acordo que havíamos feito. (Bitransitivo - liga-se a um complemento com preposição: "A o meu amigo"; e a outro complemento sem preposição: "o acordo")

Nesse caso, o complemento que constitui "aquilo que é lembrado" liga-se ao verbo diretamente, sem preposição.

PRONOMINAL
Obs.: Verbo pronominal é aquele que se acompanha de um pronome oblíquo da mesma pessoa que o sujeito (eu>me / ele>se / nós>nós, etc.)

* Poucos se lembram dos mais necessitados. (O verbo é acompanhado do pronome oblíquo 'se' e o complemento liga-se ao verbo com uso de preposição: "dos [DE + os] mais necessitados").

Quando o verbo lembrar é usado como pronominal, o seu complemento deve ser antecedido pela preposição 'DE'. Portanto, nessa situação o verbo é transitivo indireto.

A princípio, o significado é o mesmo (Poucos lembram os mais necessitados / Poucos se lembram dos mais necessitados), a menos que esse verbo seja usado como BITRANSITIVO (lembrar "algo" "a alguém"), pois nesse caso o complemento que indica o "elemento lembrado" não poderá ser acompanhado de preposição.

Então o que determina a escolha? A vontade do usuário. Vai depender do estilo, da sonoridade (no caso de textos artísticos) ou do gosto, pois o significado não sofre alteração.

O caso do verbo ESQUECER é bem semelhante, com a principal diferença de que ele nunca é BITRANSITIVO. Assim:
* Eu esqueci os documentos do carro (VTD)
* Eu me esqueci dos documentos do carro (pronominal e VTI)

Então, resumindo, o verbo lembrar, com o significado que consideramos, pode-se se apresentar assim:

VTD: Não lembro o que me deixou chateado.
Pronominal e VTI: Não me lembro do que me deixou chateado.

Não foi tão curto quanto eu esperava, mas enfim, é só isso.
Até a próxima!
Não esqueça de compartilhar nas redes sociais nem de comentar.

Diogo Xavier



tags: regência verbal, lembrar, lembrar-se, dicas, vocabulário.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Frase, Oração e Período

Neste post vamos ver três conceitos simples, mas essenciais para iniciar o estudo da SINTAXE, que é o campo da linguística que trata da relação entre as palavras e orações no período. Pois bem. Antes de apresentar os conceitos, leiamos o poema a seguir, do escritor pernambucano Manuel Bandeira:
* para ir direto aos conceitos, vá às partes vermelhas sublinhadas.

EVOCAÇÃO DO RECIFE- Manuel Bandeira
Recife
Não a Veneza americana
Não a Maurisstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois -
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de
chicote-queimado e partia as vidraças
da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho
e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias
tomavam a calçada com cadeiras,
mexericos, namoros, risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai! 

À distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)

De repente nos longes da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era São José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino
porque não podia ir ver o fogo

Rua da União...
Como eram lindos os nomes
das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chama do Dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido 
Do lado de lá era o cais da rua Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe

- Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto
árvores destroços redomoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras 

Novenas
Cavalhadas
Eu me deitei no colo da  menina e ela
começou a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
- Capibaribe
Rua da União onde todas as tardes
passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim que se chamava midubim
e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas
que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom,
Recife brasileiro como a casa de meu avô. 

 
Vamos reler o trecho: "Fogo em Santo Antônio!"
No trecho em destaque, podemos observar que não há verbo, porém constitui um enunciado de sentido completo.
Em um outro contexto, como num filme de guerra, no início de uma batalha, a palavra 'fogo', sozinha, poderia constituir um enunciado de sentido completo, podendo, nesse caso, ser substituída por 'atirar!', um verbo e também um enunciado completo.
Podemos concluir que tanto uma palavra sozinha quanto um conjunto de palavras, possuindo ou não verbo, podem estabelecer uma comunicação de sentido completo. Dentro de um contexto, é claro.
A esse enunciado que transmite uma mensagem ou estabelece uma comunicação de sentido completo e pode ser constituído de uma ou mais palavras, com ou sem verbo, damos a denominação de FRASE. Exemplos: "Silêncio!", "Fogo!", "Façam silêncio".

A frase que não possui verbo é chamada de FRASE NOMINAL, enquanto a que possui verbo ou locução verbal é chamada de FRASE VERBAL.

ORAÇÃO é o enunciado que possui um verbo ou locução verbal. Por exemplo, "Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância", "A gente brincava no meio da rua".

Vamos ler agora a letra de Nando Reis, Não Vou me Adaptar:
  

NÃO VOU ME ADAPTAR  -  Nando Reis

Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar (3x)

Eu não tenho mais a cara que eu tinha
No espelho essa cara já não é minha
É que quando eu me toquei achei tão estranho
A minha barba estava deste tamanho

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Me adaptar!

Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Não vou!

Eu não tenho mais a cara que eu tinha
No espelho essa cara já não é minha
Mas é que quando eu me toquei achei tão estranho
A minha barba estava deste tamanho

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou!
Não vou me adaptar! Eu não vou me adaptar!
Não vou! Me adaptar!...
 
Vou usar dois exemplos para ilustrar o próximo conceito.
1."Eu não encho mais a casa de alegria"
2."Eu não tenho mais a cara que eu tinha"

Numa breve análise dos dois enunciados, podemos identificar que ambas possuem verbo, sendo que a primeira possui um, e a segunda, dois.
Já vimos que a oração possui um verbo ou locução verbal. Portanto, o primeiro enunciado é constituído de uma oração, enquanto o segundo possui duas orações.

Essas FRASES VERBAIS constituídas de uma ou mais orações são chamadas de PERÍODO.
Quando possui uma oração, chamamos de PERÍODO SIMPLES, como no primeiro exemplo.
Já quando possui duas ou mais orações, recebe o nome de PERÍODO COMPOSTO (segundo exemplo).
Para resumir a relação entre esses conceitos (clique para ampliar):
 
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Prof. Diogo Xavier
tags: frase, oração, período, simples, composto, sintaxe, gramática, oração