Estamos mais que acostumados a ver e ouvir, nos meios de comunicação, temas relacionados à cidadania ou à falta dela: corrupção, intolerância, preconceitos, entre muitos outros. O que não nos damos conta é que, muitas vezes, as causas de tudo isso podem estar mais próximas de nós do que pensamos. A esse respeito, leia a seguinte crônica, retirada de um blog:
Reflexões sobre cidadania, em 10 atos
Lô Politi
1 – Corrupção
A gente sabe que um dinheirinho consegue liberar uma multa ou furar uma fila. Dar um jeitinho. Coisa pequena. Se o dinheirinho começa a ficar grande, vira milhões, envolve um político ou um juiz, aí a gente começa a chamar de corrupção. Qual será o limite entre jeitinho e corrupção? A gente conviveu tanto tempo com esse mar de lama que já nem sabe mais o que é certo e o que é errado, o que pode e o que não pode. A gente acaba achando que o jeitinho é normal. Não é.
2 – Desrespeito
Às vezes a gente quer pagar uma conta atrasada e pega uma fila enorme. Fica horas em pé e ainda é mal tratado pelos funcionários. Isso porque a gente quer pagar, imagina quando quer pedir alguma coisa… Outras vezes a gente quer trocar um produto que veio quebrado… A gente pagou, fez tudo certinho, a loja que estava errada e ainda trata a gente mal. Sem saber direito com quem reclamar, a gente acaba deixando pra lá, como se isso fosse assim mesmo. Não é.
3 – Descaso
Se aparece um buraco no meio da rua, a gente desvia. Cresce o mato na praça que a gente frequenta, a gente volta pra casa. O lixo toma a calçada que a gente passa todos os dias, a gente se arrisca pela rua. Passa um tempo e o que era provisório passa a ser definitivo, o que era exceção passa a ser regra. E a gente nem percebe. Quando a gente se dá conta já está vivendo no meio da bagunça e da sujeira, como se isso fosse normal. Não é.
4 – Indignidade
Um dia aparece uma casinha assim, no meio do nada, embaixo da ponte, na calçada. De repente aquilo vira uma favela enorme e a gente nem percebeu como ela foi crescendo. O mesmo aconteceu no prédio que virou cortiço, na praça que virou dormitório, na marquise que virou abrigo. Na hora a gente sente pena, sente medo, sente raiva. Depois chega em casa, se tranca e esquece o assunto. A gente acaba achando normal que as pessoas possam viver de forma tão precária. Não é.
5 – Sujeira
Às vezes a gente vê um monte de lixo acumulado em algum lugar e joga o nosso lixo em cima do que já está lá. Pode até ser no meio da rua, num córrego, num terreno baldio. A gente sabe que ali não era pra ser lixo, mas, como já tem um monte, a gente acha que tudo bem jogar mais um pouquinho. Afinal, é melhor do que jogar onde ainda tá limpo, pelo menos a gente não tá sujando ainda mais a cidade. É como se lixo chamasse lixo. Como todo mundo faz isso, parece normal. Mas não é.
6 – Abandono
Claro que a gente sabe que a criança não nasce ruim, que se ela fica ruim é porque tá tudo errado, desde o começo. É o pai que tá desempregado, é a educação que é péssima, a saúde precária, os traficantes em cima, a polícia que não dá conta, enfim, tudo parece que conspira pra levar a criança pra delinquência. Mas quando a gente vê uma criança cometendo um crime, dá tanta raiva que a gente não quer nem saber como as coisas chegaram até aí, a gente só quer que ela pague por isso. Parece que a criança já nasceu assim e pronto, como se isso fosse natural. Não é.
7 – Humilhação
O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Isso faz pouco mais de 100 anos. Pode parecer muito, mas historicamente não é nada. Ainda ontem os negros eram escravos. Todo mundo se emociona com os filmes, as novelas, os livros que contam essa história. Mas pouca gente se dá conta de que, hoje em dia, ainda tem muita gente que discrimina o preto, o pobre, o feio, o esquisito, o diferente… Muitas vezes a gente vê isso acontecer e não fala nada. E às vezes nem imagina que isso possa ser crime. Mas é.
8 – Violência
O vizinho bate no filho, o amigo bate na mulher. Às vezes até um parente nosso se envolve numa briga boba que termina mal… É difícil lidar com isso, a gente tem medo de denunciar, acaba não falando nada, não fazendo nada. Às vezes a gente até sente alívio porque dessa vez não foi tão grave, comparada com as outras… A gente acha menos grave porque é tão absurdo e violento o que se vê por aí que acaba achando quase normal uma pessoa bater em outra. Não é.
9 – Constrangimento
Sabe aquele cara que acha que pode mexer com a mulherada no ônibus? Ou o universitário que dá trote, a torcida organizada que faz barbaridades, o policial que abusa da autoridade, o filhinho de papai que queima o mendigo… Às vezes só quando alguém morre numa situação dessas é que a gente se dá conta do absurdo que é as pessoas agirem assim, como se fossem melhores que os outros… Parecem até donos do mundo. Mas não são.
10 – Intolerância
Tem gente que gosta de viver de uma maneira que a gente acha errada. Tem gente que acredita piamente em coisas que a gente acha um absurdo. Toda hora a gente tem que conviver com o que a gente não concorda. Difícil é a gente se dar conta de que o outro lado também sente a mesma coisa, também não concorda com a gente, também tem que fazer esforço pra entender e conviver com a gente. Também não deve ser fácil. O que não dá pra entender é a pessoa que parte pra ignorância, como se o seu modo de vida fosse o único certo. Não é.
Disponível em: <http://lopoliti.com/2009/12/11/cronica-da-sexta-reflexoes-sobre-cidadania-em-10-atos/ >
1º A linguagem utilizada no texto é formal ou informal? Justifique com, pelo menos, três exemplos do texto.
2º O que poderia justificar a autora ter escolhido esse nível de linguagem?
3º Nenhum texto é desprovido de intencionalidade. Todo e qualquer texto tem o objetivo de transmitir alguma mensagem ao leitor, mesmo que não tão explícita. Na crônica lida, qual seria a mensagem que a autora busca transmitir ao leitor? Explique.
Releia o período a seguir para responder às questões 4, 5 e 6:
“Se aparece um buraco no meio da rua, a gente desvia”
4º Esse período é composto por duas orações. Separe e classifique-as.
5º Entre essas duas orações, há uma relação de subordinação, ou seja, uma dependência sintática. Qual das duas orações é a subordinada? Qual é a sua classificação?
6º O tipo de oração subordinada presente do período exposto costuma ser usado, em contextos mais informais, na forma reduzida com o verbo no gerúndio. Reescreva o período, passando a oração subordinada para a forma reduzida de gerúndio.
7º Releia o seguinte trecho: “Quando a gente se dá conta já está vivendo no meio da bagunça e da sujeira [...]”
Transcreva e classifique a oração subordinada presente no período.
8º Há um problema em relação à pontuação no período da questão anterior. Diga qual é e JUSTIFIQUE.
Considere o trecho: “Afinal, é melhor do que jogar onde ainda tá limpo”.
9º Escreva e classifique a oração subordinada adverbial presente no período acima. (na verdade, há duas. Basta uma para atender a questão)
10º Que palavra nesse mesmo período é típica da linguagem oral? Reescreva-a, passando para a linguagem
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